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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Anti-herói americano (American splendor)

Sempre que leio algo a respeito de quadrinhos, e do "bum" que ocorreu de uns tempos para cá com a transposição das HQs para o cinema, vejo referências sobre "Cavaleiro das trevas" como a melhor delas. Devo discordar nesse ponto, não que eu ache o segundo filme (depois da retomada) do homem morcego fraco, longe disso o filme é soberbo, contudo para mim a melhor adaptação dos quadrinhos é: Anti herói Americano(American Splendor, 2003) que narra a vida de Harvey Pekar ( interpretado magistralmente por Paul Giamati e tambem pelo próprio Harvey), um rabugento colecionador de livros e discos que trabalha no mais tedioso departamento de arquivo morto da cidade. O filme é uma mistura inusitada de documentário, desenho animado e drama com comédia, contudo apesar de ter uma identidade multi-facetada o filme não se perde, pelo contrário ganha e cativa na mesma medida que inova e disseca a vida cotidiana do senhor Pekar (falecido no mês passado). Harvey é extremamente rabugento e não muito sociável e um tanto bruto em muitas oportunidades, em um de seus acessos de raiva ele perde a voz de tanto gritar e se vê numa situação que necessitava de uma válvula de escape. Harvey era amigo de Robert Crumb, autor de quadrinhos subversivos dos anos 70 criador de Fritz the cat, e decide, talvez por influência ou epifania, começar a escrever uma história em quadrinhos sobre a sua própria vida cotidiana, mas sem fazer quaisquer concessões críticas punha as pessoas da vida real, sua esposa, colegas de trabalho e transeuntes em situações e problemas claramente contemporâneos. Com o lançamento da HQ e seu consequente sucesso Harvey se torna uma celebridade que visita todos os "late talk shows" e por sua persona incomum fez extrema popularidade, mais ou menos como o Rogerio Skylab é aqui em suas várias entrevistas a Jô Soares, um misto de figura trágica, e de quem vê de fora, ou seja, quem não é o próprio Harvey, uma figura igualmente cômica. Isso evolui até Harvey se casar com uma de suas admiradoras e contrair um cancêr, tudo registrado por Harvey em suas revistas mensais com uma crueza e sarcámo sem igual. Um exercício soberbo de metalinguística, com grandes atuações comandado a quatro mãos por Shari Springer e Robert Pulcini que haviam dirigido documentários e filmes para tv. Óbviamente não posso negar o apelo popular que cavaleiro das trevas além de ser um grande filme, entretanto quando se trata de diversificação e inventividade para com algo que é mais que uma adaptação de quadrinhos e se torna uma óbra única, transgressora e indigesta como o próprio Harvey Pekar.